Consagrada como uma das sete artes tradicionais, a poesia tem no poeta o agente que faz da palavra a sua mais nobre matéria-prima. A verdade é que o poeta é muito mais que um sonhador ou vendedor de emoções e de paixões, mensageiro da nostalgia e da alegria, mas alguém que pode dar uma lição exemplar ao mais racional dos segmentos – o sistema financeiro internacional. Entre os escultores de versos, o nosso destaque vai para Paulinho da Viola, poeta, compositor e músico dos mais brilhantes do Brasil. Em Argumento, letra e música de sua autoria, vamos encontrar um alerta aos Governantes, à classe empresarial e à cada um de nós; “Faça como o velho marinheiro/que durante o nevoeiro/ toca o barco devagar”.
A maior potência (EUA) econômica, financeira e bélica do planeta, com cerca de 25% do PIB mundial, vacila, balança e revela o seu “calcanhar-de-aquiles”. De Wall Street, epicentro da crise, partiu o mais furioso “tsunami financeiro” das últimas décadas que, em segundos, varreu o planeta levando pânico à todos os Ministros de Finanças. Instalada a incerteza, palavra detestada pelo mercado, a perspectiva é que os seis bilhões e seiscentos milhões de habitantes da terra terão que pagar a conta, pelo erro de gestão de alguns banqueiros. Socializar os prejuízos é humilhante, e ver o capitalismo sendo salvo pelo socialismo é intrigante. A tão cortejada globalização transformou o mundo dos negócios numa jogada de xadrez – movimenta-se uma única peça e mexe-se no jogo todo.
Com menor volume de dinheiro no mercado global, maior taxa de juros, seletividade rigorosa na concessão de empréstimos, redução de investimentos por parte das empresas, queda de consumo, menor PIB mundial, mais desemprego, lamentavelmente, haverá aumento da pobreza mundial. Reverter essa tendência é questão de competência. O crédito, que irriga o mundo dos negócios, está para o desenvolvimento (econômico e social) assim como o sangue está para o corpo humano. Nem as lições do passado, (1929/1930-EUA), o domínio das mais avançadas teorias econômicas, as incríveis descobertas científicas e o espetacular desenvolvimento tecnológico foram barragens eficazes para conter esse “tsunami financeiro”, provocado, irresponsavelmente, por falha humana.
O que nos deixa perplexo é saber que apesar do elevado grau de inteligência, formação acadêmica nas melhores universidades do mundo, longos anos de experiência e salários milionários, banqueiros norte-americanos tenham cometido esse gravíssimo erro de gestão. Essa ocorrência contrasta com os procedimentos da Diretoria de recursos humanos das grandes corporações, que exigem: capacitação técnica, conduta ética, competências ecléticas, visão sistêmica do negócio em que atuam, versatilidade, criatividade para reverter resultados negativos, gerenciamento interativo, entre outros. Num desses pré-requisitos os executivos falharam.
A intervenção do Estado (teoria keynesiana) levará os países a destinarem alguns (?) trilhões de dólares, para resgatar a confiança nos bancos e evitar a redução drástica do ciclo produtivo. Quais seriam os benefícios, para a população de baixa renda, se esse valor (astronômico) fosse investido em projetos sociais? Erradicação da fome, que atinge mais de um bilhão de pessoas, geração de renda para milhões de desempregados, prestação de serviços públicos de elevada qualidade e a eliminação da mais aviltante das violências – a miséria.
A crise torna-se real quando sai do econômico e vai para o psicológico, deslocando-se da Bolsa de Valores para o bolso dos consumidores - a parte mais sensível do corpo humano. Encerramos com o pensamento do célebre prosador, político e orador romano, Cícero (106-43 a.C): “Vamos equilibrar o orçamento, proteger o tesouro, combater a usura e reduzir a burocracia. Caso contrário... afundaremos todos”.
Faustino Vicente - Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos, Professor e Advogado