SÃO PAULO - Uma sincera declaração de amor pelas máquinas digitais.
Tenho quatro computadores — um desktop, um laptop, um netbook e um smartphone. Tem, também, um quinto, o desktop da minha mulher, no qual escrevo agora. E tem um sexto, que é o laptop dela, que fica para emergências. E há, ainda, um sétimo, o desktop do meu filho, que eu temo um pouco por ser um Mac. Sim, eu amo computadores — todos eles. Neles, estão meu correio, meu cinema, minha TV, minhas revistas e meus livros. Estão meus agentes de viagem, minhas agências bancárias, minha enciclopédia. Lá, estão meus amigos, conversando nas redes sociais, numa permanente festa virtual.
Gente que odeia computadores joga isto em nossas caras: “Desliga isso e vai viver um pouco!”. Outro dia, enfrentei um amigo dessa seita. Ele se orgulhava de ter um endereço de e-mail e não divulgar para ninguém. Seu tom era de “Não sou escravo de uma máquina como você”. Eu sou escravo de uma máquina? Ou tenho sete escravos à minha disposição? Não importa.
A questão é: se computadores são a negação da vida, o que é a vida? Andar numa praia deserta num dia de sol? Tomar cervejinha no bar entre gargalhadas com a turma do ginásio? Tocar mais em pessoas do que no mouse? Tirar dez minutos para brincar com o gato? Beijos em escadas rolantes de shoppings? Sexo selvagem e apaixonado? Não tenho a menor pretensão de negar: isso tudo é vida — assim como pagar contas, ter dor de dente, brigar no trânsito, aguentar gente chata, sofrer pela morte de uma pessoa querida. Tudo isso também é vida.
Então, ao falar mal de computadores, que não venha o tecnófobo me empurrar cenas de comercial de seguradora. A vida “real” nem sempre é uma propaganda cheia de sorrisos com um locutor de voz suave e uma musiquinha ao fundo. A vida pode ser você escapando da pressão do trabalho assistindo a um videozinho no YouTube. Pode ser um diálogo emocionado pelo Messenger com seu filho que faz um estágio na Austrália. Pode ser o gosto de adrenalina ao bater um novo recorde no seu game favorito, passar o dia ouvindo a melodiaweb.
Uma das razões que levam as pessoas a separar a “vida” do computador é uma questão física. No seu formato clássico, o computador é um ancoradouro onde sentamos nossos traseiros numa cadeira e olhamos para um monitor aparentemente isolado do mundo ao redor. Mas o Twitter mostra que essa fase está ficando para trás. Milhares de pessoas vivem (no sentido clássico do termo) e narram suas vidas em rápidas tecladas no celular. Como eterno tecno-otimista, acho que os computadores e a vida fora deles vão se completar cada vez mais. As máquinas serão progressivamente mais portáteis e mais bem adaptadas aos nossos corpos. Computadores não nos afastarão da vida, mas multiplicarão sua mágica. E é por isso que eu amo meus computadores — todos os sete.
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