As coisas precisam ser ditas. Essa frase, de um personagem de um filme, expressa como o silêncio o condenara a não viver plenamente o seu amor por mais de 30 anos, por receio de declarar-se. Assim, se o silêncio pode calar destinos, as palavras ditas na hora certa, sobretudo por pessoas amadas, podem trazer soluções ou mesmo salvar vidas.
A palavra tornou-se valioso instrumento terapêutico, com respeitabilidade científica, através da obra de Freud, que, ao desvelar a existência do inconsciente, tornou o diálogo um veio profícuo de cura.
E em família, o diálogo é sempre fundamental, especialmente quando há filhos adolescentes, ocasião em que os jovens costumam afastar-se dos pais.
A adolescência é um período no qual é freqüente o aumento nos confrontos entre pais e filhos. É uma fase de emoções intensas, pois o jovem está buscando consolidar a sua própria identidade. Esse processo manifesta-se pelo maior envolvimento com o grupo de pares de sua idade e pode vir acompanhado de afastamento de sua família. Essa distância dos pais pode expressar-se em forma de rebeldia, sendo comuns as cenas de jovens trancados em seus quartos, isolados em seu mundo, emudecidos ou intolerantes faces às perguntas dos pais. E tudo isso acontece sem motivos aparentes para tal.
Diversos trabalhos científicos em várias partes do mundo demonstram que se trata de um fenômeno global. São gerais os relatos que associam a adolescência a uma época de questionamento, quando os filhos põem em cheque as regras, os valores e as crenças familiares. Jovens irritados e questionadores podem gerar uma muralha em relação aos pais.
É comum manifestarem ataques de raiva, apresentarem comportamentos sexuais desafiadores ou agressivos. E nessa busca de afirmar a própria identidade, correm riscos de influências externas que os conduzam a caminhos incertos, rumos de ousadia e mesmo riscos para a saúde e a vida.
Atualmente, há também relatos de aumento de quadros depressivos em jovens, cujo isolamento e tristeza podem conduzir em certos casos ao suicídio. Tais situações próprias do relacionamento familiar na adolescência, encontram no esforço do diálogo a sua maior força terapêutica.
Quem deve fazer o movimento da procura são os pais, que devem compreender, tolerar, lembrar da própria rebeldia no passado. A experiência e a maturidade devem falar mais alto e acionar a humildade da procura, da insistência pelas palavras, de vencer a mágoa e retomar a relação. Não é fácil engolir seco, domar a raiva, dominar o impulso do poder de ser pai/mãe, de saber-se investindo no filho, em recursos financeiros, em afeto, em compreensão e perceber-se rejeitado(a). Mas a tolerância, a paciência e o diálogo podem abrir caminhos de reconquista e de novos encontros.
Famílias com fronteiras mais flexíveis permitem que o adolescente possa transitar e experimentar-se livremente em diferentes territórios, aproximando-se quando se sente inseguro e afastando-se para experienciar sua independência. Nesse cenário, exigem-se esforços de todos os membros na busca de novos padrões de convivência familiar, adaptados a este momento específico do ciclo vital da família.
E a comunicação clara e direta é um dos recursos em que a família deve investir, pois certamente pode favorecer a confiança e o afeto entre pais e filhos, assegurando a compreensão e os laços necessários para uma adolescência mais feliz.
Virgínia Schall é graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É mestre em Fisiologia pela UFMG e doutorado em Educação pela PUC do Rio.
É pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz, chefe do Laboratório de Educação em Saúde do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz, MG) e membro do colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do CPqRR. Sua experiência na área de Educação, tem ênfase em Educação em Saúde, atuando principalmente em prevenção de doenças infecciosas e parasitárias, promoção da saúde, saúde e comportamento.